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Eu tenho medo de meningite…e você???

Eu tenho medo de meningite…e você???

De tempos em tempos, vemos notícias nos jornais, ou nas redes sociais, de casos esporádicos de meningite, e ressurge a preocupação de ser o início de um surto ou mesmo uma epidemia. O Estado de São Paulo já enfrentou no passado epidemias enormes de meningite, com a morte de muitos doentes, tanto crianças como adolescentes e adultos. E uma proporção enorme daqueles que não morreram tiveram sequelas permanentes.

As meninges são três membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, protegendo-os. Uma infecção nestas membranas causa uma inflamação, chamada de meningite, com consequências muito graves. Apesar de diferentes bactérias poderem causar meningite, o grupo dos meningococos é o principal responsável pela doença em todo o mundo.

Neisseria meningitidis é o nome cientifico da bactéria conhecida como meningococo. Uma característica importante desta bactéria é que ela possui uma cápsula que a envolve externamente, formada por um tipo de açúcar denominado polissacáride. A cápsula é importante porque ajuda a proteger a bactéria da ação de diferentes componentes do sistema imunológico do indivíduo, aumentando muito o risco dela causar doença.

Essa cápsula tem características diferentes para cada um dos doze tipos de meningococos conhecidos, determinando a sua classificação e consequente denominação. Destes doze tipos, seis são os responsáveis pela quase totalidade dos casos de meningite em todo o mundo: os meningococos dos tipos A, B, C, W, Y e X.

O meningococo pode estar presente na garganta das pessoas, de maneira silenciosa, sem causar doença. Dizemos então que essa pessoa está “colonizada” pela bactéria. E a partir destes indivíduos, pode ser transmitido de pessoa a pessoa por gotículas ou secreções respiratórias.

Em uma parcela muito pequena dos indivíduos infectados (menos de 1%), a bactéria consegue escapar das defesas do sistema imunológico, penetra a mucosa da garganta e invade a corrente sanguínea, se disseminando no organismo e causando doença.

O período de incubação da doença geralmente varia entre 3 a 4 dias, mas, uma vez iniciados os sintomas, a progressão para uma condição de muita gravidade, com risco de morte, é muito rápida. O diagnóstico precoce e início do tratamento específico são fatores essenciais para diminuir o risco das complicações. Porém, mesmo com o tratamento no momento adequado, entre 15 a 20% dos doentes morrem. E entre os sobreviventes, 20% apresentam alguma repercussão permanente, como surdez, sequelas neurológicas ou mesmo a amputação de membro.

No Brasil circulam quatro tipos de meningocos: os tipos B, C, W, Y. Conforme a idade do paciente, dependendo da cobertura vacinal na região e da presença fatores de risco do próprio individuo, pode haver um risco maior de infecção por algum tipo específico de meningococo.  Atualmente a grande maioria dos casos são causados pelos tipos B ou C. Porém, mais recentemente, os tipos W e Y tem ganhado importância epidemiológica. No nosso país, a doença causada pelo meningococo atinge pessoas de todas as idades, inclusive adultos e idosos.

A melhor estratégia contra esta doença é a prevenção através da vacinação. No calendário do Programa Nacional de Imunização (PNI) a vacinação contra a meningite meningocócica começa aos três meses de vida.  A vacina utilizada na rede pública para a vacinação das crianças é a vacina conjugada contra o meningococo C. Essa opção foi feita por ser na época a vacina disponível em grande quantidade para vacinação da população e, principalmente, por ser o meningococo do tipo C o agente mais frequentemente isolado. No PNI, uma dose de reforço é recomendada na adolescência, utilizando-se então uma vacina quadrivalente, que além de proteger contra o tipo C, confere proteção adicional contra os tipos A, W e Y.

A Sociedade Brasileira de Pediatria sugere como opção no seu calendário de vacinação que a vacina quadrivalente contra os tipos A, C, W e Y já seja utilizada desde a primeira dose, com três meses de vida, ampliando a proteção da criança pequena. O número de doses indicadas pode variar dependendo da idade na qual a primeira dose é aplicada. A vacina quadrivalente tem em sua composição apenas pequenos fragmentos das cápsulas de cada uma das quatro bactérias, e não a bactéria inteira. É uma vacina muito segura, que confere uma excelente proteção, diminuindo significativamente o risco da doença. E também previne a colonização da região de orofaringe, evitando a transmissão para outras pessoas, tanto no ambiente de trabalho, na escola ou no domicílio. Para os adultos a vacina é aplicada em dose única, e não há limite de idade.

Atualmente, com a proteção propiciada pela vacinação de rotina contra o meningococo C, uma proporção significativamente maior dos casos tem sido causada pelo meningococo do tipo B. Uma vacina adicional, contra o meningococo B, que ainda não faz parte do PNI, é recomendada pelas Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Brasileira de Imunização, podendo ser feira de rotina também a partir do terceiro mês de vida, no mesmo dia da meningocócica quadrivalente ACWY.

A vacina contra o meningococo B é uma vacina recombinante, que contém apenas fragmentos da parede celular bacteriana, não tendo nenhum risco de causar doença. Ela também é responsável por uma excelente proteção contra a doença. Porém, diferentemente da vacina quadrivalente, ela não evita a colonização da orofaringe pelo meningococo B. Assim, apenas quem fez a vacina está protegido, não há uma proteção indireta para outras pessoas no mesmo domicílio, escola ou trabalho.

Quando administrada antes de se completar dois anos, o esquema recomendado é de três doses. Crianças maiores, adolescentes e adultos que não tiveram ainda a oportunidade de fazer a vacina, devem se programar para fazê-la, sendo então recomendado um esquema de duas doses, com intervalo de um mês entre elas. Por enquanto a idade máxima que esta vacina está recomendada é de 50 anos, pela falta de estudos de segurança e eficácia em pacientes com mais idade.

Nos dias atuais, com a melhora da vigilância para as doenças transmissíveis, o risco de uma grande epidemia pelo meningococo parece ser muito menor do que no passado. Um diagnóstico precoce possibilitaria ações de vacinação de bloqueio e contenção da disseminação da doença. Porém pequenos surtos em ambientes onde há grande concentração de pessoas, como escolas e faculdades, shows, quartéis, eventos comemorativos e até acantonamento de grupos de escoteiros, não são raros, podendo acometer algumas poucas pessoas ou até mais de uma dezena de casos.

Porém, se o risco é real, uma maneira de diminuir significativamente esse risco está disponível: vacinar todas as crianças, adolescentes e adultos contra o meningococo!!!! (MGV)

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