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Cobreiro…zona…formica…zoster. Afinal, que doença é essa?

Cobreiro…zona…formica…zoster. Afinal, que doença é essa?

São muitos nomes para a mesma doença. Herpes-zoster, ou apenas zoster, é o nome oficial das manifestações clínicas que surgem quando o vírus da varicela reativa no nosso organismo.

O vírus da varicela-zoster causa duas doenças distintas. Esse é o mesmo vírus que causa a catapora (que tem o nome técnico de “varicela”) quando nos infecta da primeira vez, geralmente na infância. A catapora é uma doença autolimitada na maioria das pessoas, que se resolve ao longo de 10 a 14 dias, e que frequentemente deixa pequenas cicatrizes na pele.

Na catapora, enquanto as lesões na pele vão aparecendo, o vírus está se multiplicando e circulando no organismo. Nesse momento ele pode entrar nos nervos sensoriais que inervam a pele, e ser transportado para os gânglios nervosos sensoriais que ficam adjacentes à medula espinhal. É nas células desses gânglios que o vírus pode se estabelecer de forma latente, ou seja, permanecendo inativo por muitos anos.

O estímulo para a reativação do vírus ainda não foi identificado, e provavelmente múltiplos fatores estão envolvidos. Mas não resta dúvida que o sistema imunológico tem papel fundamental nos mecanismos de contenção do vírus. Nas situações em que há algum comprometimento da imunidade, quer por doença, uso de medicamentos, estresse ou pela própria idade, é mais comum a reativação do vírus.

Quando o vírus reativa, ele faz o caminho inverso, migrando através dos neurônios sensoriais, se espalhando célula a célula, até atingir a epiderme. As manifestações clínicas do zoster são bastante variáveis. Antes do aparecimento das manifestações locais pode ocorrer dor de cabeça, fotofobia e um certo mal-estar.

Dor na pele é o sintoma mais comum, e pode preceder em vários dias o aparecimento da erupção local. A dor pode ser de diferentes intensidades, desde uma sensação de prurido ou pequenos choques, até uma sensação de queimação intensa, com dor lancinante.

A erupção do zoster atinge apenas um lado do corpo, e geralmente se inicia com uma vermelhidão no local, e o aparecimento de pequenas bolhas, que podem se fundir com a progressão da doença. Ao longo dos dias novas lesões param de aparecer, e as bolhas passam a ter aspecto de pus, ulceram e formam uma crosta durante a cicatrização. A resolução completa da erupção demora de 2 a 4 semanas.

Uma sequela relativamente comum do zoster é a persistência da dor após a resolução da erupção. A intensidade da dor pode ser bastante variável, de leve até muito intensa, e persistir por semanas, meses ou mesmo anos. Trata-se da neuralgia pós herpética. A dor pode interferir com o sono, o trabalho e as atividades diárias, impactando muito na qualidade de vida

Entre as pessoas que desenvolvem herpes zoster, de 10% a 25% podem ter algum comprometimento ocular, chamado de herpes zoster ophthalmicus. São comuns as úlceras de córnea, conjuntivite, e inflamação do nervo óptico. Casos mais graves podem evoluir para cegueira.

Uma complicação rara, mas que ocupou um espaço grande nas mídias sociais recentemente por conta de um cantor acometido pela doença, é a síndrome de Ramsay Hunt. Essa síndrome se manifesta com o aparecimento de paralisia facial, acompanhada da erupção do zoster, com pequenas bolhas na orelha, no palato ou na língua.

O tratamento da doença é realizado com a utilização de fármacos antivirais e analgésicos para o controle da dor. Mas sem nenhuma dúvida, a melhor estratégia contra o herpes zoster é a prevenção através da vacinação.

Atualmente já está disponível no Brasil a nova vacina contra o herpes zoster do laboratório GlaxoSmithKline, que tem o nome de Shingrix. A vacina é produzida através de uma moderna tecnologia, de modo que contém como princípio ativo apenas uma glicoproteína que está presente na superfície do vírus (gE). Assim, em nenhum momento da produção, nem no produto final, utiliza-se o próprio vírus da varicela zoster ou seu DNA completo. Isso implica em segurança na utilização da vacina tanto nos pacientes maiores de 50 anos como naqueles que apresentam algum grau de comprometimento imunológico.

Os estudos com a utilização da Shingrix em pacientes saudáveis foram muito animadores. Nos adultos com idade entre 50 a 69 anos, a eficácia da vacina na prevenção da doença foi de 97,2%. E naqueles com mais de 70 anos, a eficácia continuou muito boa, sendo de 91,3%. Nos pacientes vacinados, o risco da principal complicação da doença, a neuralgia pós herpética, foi muito baixo. E essa eficácia se manteve alta no seguimento de 4 anos após a vacinação. A duração da proteção além de 4 anos está sendo investigada.

Pela característica de não ter em sua composição nem a partícula viral e nem sequer seu DNA, a vacina também pode ser utilizada naqueles indivíduos maiores de 18 anos e que apresentem algum comprometimento do sistema imunológico, quer seja por doença ou pela utilização de medicamentos imunossupressores.  Esse é um grupo de pessoas com grande risco de desenvolver o herpes zoster e de suas complicações, e a eficácia da vacina na prevenção da doença nessa população também é boa.

A vacina mostrou um excelente perfil de segurança. As reações adversas foram bastante comuns, ocorrendo em mais de 70% dos pacientes, como reações locais (dor, edema e hiperemia), cefaleia, mialgia, mal-estar, sintomas gastrointestinais (náusea, vômito, diarreia), na maioria dos casos com resolução espontânea entre dois e três dias. O esquema recomendado é a administração de duas doses da vacina, com intervalo de dois meses.

Para quem tem mais de 50 anos ou algum outro fator de risco de desenvolver herpes zoster, aproveite a próxima consulta de rotina com o seu médico, pergunte sobre a nova vacina e se ela não estaria indicada no seu caso.

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